segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Tim Maia

REPRODUÇÃO DA INTERNET


28 de setembro é dia de São Venceslau, data de falecimento de Miles Davis e data de aniversário de uma pancada de gente talentosa como Victor Jara, Brigitte Bardot e Ben E. King. Entretanto é sobre outro aniversariante que vou falar e que considero totalmente essencial para qualquer ouvinte de boa música brasileira. Estou falando de Sebastião Rodrigues Maia, o majestoso Tim Maia.

Cantor, compositor, maestro e multi-instrumentista, Tim Maia foi sem dúvida alguma o maior difusor do soul e do funk americano no Brasil. Mais do que isso, ele mostrou sua grande genialidade ao mesclar gêneros musicais brasileiros, como baião e samba, com o poderoso e malemolente funk americano. 

Meu primeiro contato com o Tim Maia foi na infância, mas confesso que não me agradou nem um pouco. Achava ele um cantor cansado, pesado, que suava sem parar e com uma voz horrorosa. Eu tinha total aversão ao cantor. Claro que isso se deve ao fato de eu ter conhecido o final da carreira do Tim, tanto que hoje lembro exatamente o momento da notícia de sua morte. Eu tinha 11 anos de idade e estava em casa, estudando astronomia numa noite quente do mês de março, enquanto passava no Jornal Nacional a imagem do Tim Maia se retirando do palco por estar passando mal, vindo a falecer horas depois por causa de uma infecção generalizada.

Primavera (1970)

Mas assim como em muitas coisas da vida, minha visão sobre Tim Maia mudou completamente alguns anos depois. Na adolescência passei a escutar a rádio Nova Brasil FM (hoje acho muito chata) e lembro que fiquei fascinada com a canção "Primavera". Quando me dei conta, fiquei inconformadíssima com o fato do Maurício Manieri ter cometido o crime de assassinar a música. Na mesma rádio escutei um programa que homenageava o "Pai do Soul Brasileiro" e ouvi a versão original de "Você". Com 17 anos de idade eu fiquei completamente pirada! E fiquei louca para cantar isso a um garoto. Pensava que deveria ser o máximo cantar aquilo para alguém rsrsrs. E essa mesma sensação tive com várias outras canções. 

Você (1971)

No entanto foi somente na faculdade que tive a possibilidade de começar a escutar alguns dos seus discos. Dentre o que escutei gosto muitíssimo da obra do Tim Maia entre 1969 e 1976. Daí pra frente não me agrada muito. 

Do primeiro disco de 1970, destaco "Eu amo você", "Primavera" e "Azul da cor do mar". O álbum de 1971 é uma paulada nas costas, um soco na cara e um chute nas partes íntimas, assim como a grande maioria dos discos lançados naquele ano (alguma magia existia naquela época, só petardo rsrsrs). Foi o primeiro disco do Tim Maia que escutei e talvez seja o meu preferido, se bem que não tenho certeza, pois adoro o disco de 1972 rsrs. Destaco as clássicas "A Festa do Santo Reis" (hit de 6 de janeiro no facebook), "Não quero dinheiro", "Não vou ficar" (por incrível que pareça considero a versão do Roberto Carlos melhor, escutem), "Você" e "I Don't Know What To Do With Myself". 

I Don't Know What To Do With Myself (1971)


O disco de 1972 é brutal. 12 faixas de belezuras. Também acho o disco mais passional do Tim Maia. Faixas como "Lamento", "These Are The Songs" (ele já havia gravado anteriormente com Elis Regina e que também ficou ótima na versão de Ed Motta e Marisa Monte), "O Que me importa" (regravado por Marisa Monte no disco "Memórias, Crônicas e Declarações de Amor", mas numa versão bem xexelenta. Eu te amo, Marisa, mas a versão ficou chorosa demais) e o espetacular blues "Sofre". Confesso que nos dias de dor de cotovelo escuto muito este disco hahaha.

These Are The Songs - Antológico!


O disco de 1973 é bom, mas acho um pouco paradão. E neste álbum é possível escutar dois clássicos do cantor como "Réu confesso" e "Gostava tanto de você". 

Réu Confesso (1973)

A partir de 1975 Tim Maia entra na sua fase racional. Embora seja um baita disco, mas sinceramente ainda estou um pouco imunizada rsrsrs. No entanto, destaco "Bom Senso" que é a canção racional que mais escuto. 

Bom Senso (1975)

Já o disco de 1976 é o seu "retorno". O disco é uma grande energia com muito groove. É um álbum que escuto com pouquíssima frequência, mas destaco o suingue de "Marcio Leonardo e Telmo", a animadíssima "Me enganei" e a minha preferida "Batata Frita, o ladrão de bicicleta". Em 1977, Tim Maia lançou em um compacto uma das suas melhores músicas, "Ela Partiu", que nos anos 90 foi usada como sample na música "Homem na Estrada" dos Racionais Mc's. Embora eu não curta rap, mas achei a gravação chapante. Ficou sensacional. 

Márcio Leonardo e Telmo (1976)

Ela Partiu (1977)

Bom, acho que minhas experiências com os discos do Tim Maia encerram-se por aqui. Os álbuns dos anos 80 e 90 não me agradam, com algumas exceções, é claro. Mas neste período acho que sua voz já estava muito diferente e cansada. Mal conseguia cantar, ficava conversando entre uma música e outra, enfim um saco. Nem de longe lembrava a voz potente, limpa e passional de outros tempos. Mas devo confessar que após escutar Tim Maia no auge da carreira só posso pedir desculpas pelo sacrilégio que cometi com o maior cantor brasileiro. Realmente Tim Maia era massa e era majestade. 




sábado, 26 de setembro de 2015

70 anos de Gal Costa

REPRODUÇÃO DA INTERNET


Há 70 anos nasceu em Salvador, Maria da Graça Costa Penna Burgos, a famosa Gal Costa.

Meu nome é Gal (1969)


É até tolice comentar que Galzinha é uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos. Reza a lenda que Elis Regina certa vez disse que no Brasil só haviam duas cantoras: ela e Gal Costa. Convenhamos, essa declaração é a cara da Elis Regina, né. rsrs

Cássia Eller, outra grande cantora em minha opinião, numa entrevista disse o seguinte: 
"A Bethânia marcou mais pela força da interpretação. Bethânia tem uma força única. A Elis Regina nem se fala. É uma das maiores cantoras que já ouvi na vida. A Gal Costa foi a primeira cantora moderna do Brasil. Com certeza abriu um caminho que, se não fosse ela, a gente estaria meio atrasada na forma de cantar."
Coração Vagabundo (1967) - Influências da Bossa Nova e de João Gilberto na forma de cantar


E assino embaixo. Muitos estudiosos citam Carmen Miranda como a primeira cantora moderna do Brasil. E de fato foi. Antes dela os cantores eram muito formais e ela apareceu com uma maneira mais leve de cantar. Gal Costa também trouxe outra transformação na forma de cantar das cantoras brasileiras. Até então o estilo mais sentimental e a voz empostada eram as principais características entre as cantoras nacionais. Gal sofreu influências da voz possante de Ângela Maria, dos agudos de Dalva de Oliveira, do jeito intimista de João Gilberto e da forma peculiar de cantar de Janis Joplin. Com tudo isso, o resultado foi uma cantora potente, versátil, mas ao mesmo tempo com uma interpretação graciosa e sofreada.

Gal Costa jopliana. Música do disco de 1969, seu álbum mais psicodélico. Quem curte música psicodélica vai adorar, Quem não curte, vale a pena escutar para entender as influências da época em sua maneira de cantar.


Bom, mas não estou aqui para fazer comparações entre cantoras, dizer quem foi melhor, quem foi isso ou aquilo. Aliás, como já havia dito no texto sobre Aretha Franklin, penso que não existe "a maior cantora brasileira". Acredito sim que, por algum motivo, determinada cantora toca mais o seu âmago, o seu estado de espírito, os seus sentimentos do que outra cantora. No meu caso, a cantora Gal Costa está entre as brasileiras que mais escuto. Uma voz de cristal, afinada, aguda e inigualável. Tecnicamente ela não perde para ninguém. Sua interpretação mais contida e sugestiva me encanta, assim como também a diversidade de ritmos presentes em seu repertório.

Vapor Barato de 1971. Aqui Gal consegue transformar uma música comum em uma das melhores interpretações da música brasileira.


A voz exótica de Gal Costa sempre me seduziu desde a infância. Lembro que quando escutei a canção "Vaca Profana" pela primeira vez, eu deveria ter uns 12, 13 anos de idade, minha reação foi: "O que é isso, meu deus! hahaha". Era um som muito louco para uma pré-adolescente acostumada a escutar sons mais açucarados. Hoje eu adoro essa música.

Gal cantando ao vivo Trem das Onze em 1973.

Destacando o que gosto de escutar, me encanta a fase sessentista e setentista da Gal Costa. Em minha opinião, Gal não tinha medo de inovar. Seus primeiros discos são realmente muito bons. Foi também nos anos 70 que Gal se mostrou mais intérprete do que uma cantora com uma voz potente. Neste período, Gal foi tudo: roqueira, jopliniana, tropicalista, desvairada, brejeira, melancólica.

Vaca Profana (1984)

Nos anos 80, Gal atingiu o auge de sua beleza e preferiu focar o lado técnico de sua voz, desistindo, muitas vezes, de ser intérprete. Mal que também acometeu a minha querida Aretha Franklin. Neste período, Gal gravou algumas boas canções, mas de modo geral foi uma década perdida, seus discos não tinham o mesmo charme de outrora. Ficou melosa demais. Dos anos 90 pra cá, infelizmente, Gal Costa perdeu o brilho. Não lembra nem de longe os seus melhores momentos. E confesso que desde então não tenho a mínima vontade de acompanhar sua carreira. 

Mas não quero acabar o post falando da minha desilusão com a Gal nas últimas décadas, mas sim relembrando o que esta mulher fez de melhor. Adoraria colocar 365 videos da minha "bonequinha chululu", mas sei que é impossível e seria extremamente cansativo. Fiquem com este último video e apreciem uma das mais belas vozes dentre as cantoras brasileiras.

Modinha bem brejeira. Se Sônia Braga é a Gabriela em carne e osso, Gal é a voz de Gabriela.



sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A incrível utilidade de Leandro Narloch

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No ano passado, conheci um rapaz chamado Pedro* através do facebook de uma amiga. Ele me adicionou e começamos a conversar. Pedro era muito bonito, psicanalista, músico, intelectual, sexy e esquerdista. Resumindo, fiquei bastante interessada. Nos conhecemos e percebi algumas coisas que foram me desagradando.

Pedro tinha um ar meio blasé, típico de muitos intelectuais, me chamava de "Clara Nunes", dizia ser filho de Xangô, gostava de compor samba e queria que eu usasse o meu cabelo encaracolado, pois para ele eu ficaria mais bonita e natural (o cabelo é meu e uso como eu quero, né). Além dessa chatice toda, ele tinha um problema grave. Não gostava de futebol e quando falava sobre o assunto era realmente insuportável. Detalhe: o conheci um pouco antes da Copa do Mundo no Brasil e nesta época lotei meu facebook com status e textos sobre futebol.

Depois desse encontro tentei manter distância. Mas ele era insistente. Mandava mensagens pelo WhatsApp, pelo facebook, queria conversar comigo e me encontrar. E com tanta insistência, eu acabei cedendo. Nos encontramos no Shopping Metro Santa Cruz, na livraria Saraiva. Conversamos por um bom tempo, mas eu não me sentia a vontade de estar ali com ele. Aí comecei minha "tática do desencanto". Comecei a falar de futebol e peguei o livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo" do jornalista Leandro Narloch. Eu sabia que muitos historiadores e intelectuais odiavam este livro. Por isso fiz o seguinte comentário: 

- Nossa, Pedro, eu li este livro no mês passado. É muito bom! Espetacular! Abriu minha mente de verdade. Você precisa ler isso.

Depois deste dia, Pedro nunca mais me mandou mensagens e me excluiu do facebook. 

Agora falando sério, diferente do livro de Leandro Narloch, que, na verdade, nunca li e nem tenho interesse em ler, os Bítous sempre aproximaram as pessoas de mim. E existe uma música dos Bítous que fala muito bem desses desencontros de interesses que sempre acabam afastando as pessoas. Apreciem.


Hello Goodbye




*Nome fictício




Visões de mundo: trabalho

Em 2012 eu trabalhava no departamento de Recursos Humanos de uma grande empresa. E adorava trabalhar lá. Aliás, sinto muito falta. Certa vez, eu estava olhando a tela do computador procurando na internet candidatos para vagas de emprego e me deparei com um nome muito engraçado. Daí aconteceu o seguinte diálogo com uma colega que estava sentada ao meu lado:

Eu: Meu deus! hahahaha
Minha colega: O que você está fazendo?
Eu: Estou trabalhando, ué. 
Minha colega: Rindo desse jeito... Nem parece que está trabalhando... 

Pois é. Eu e esta colega de cargo superior ao meu fazíamos a mesma coisa. Perspectivas diferentes.

sábado, 19 de setembro de 2015

As Mil e Uma Noites de Korsakov

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Há alguns dias a novela turca "Mil e Uma Noites" terminou na Rede Bandeirantes. Fazia um bom tempo que eu não acompanhava com tanta dedicação uma história. Embora eu adore assistir novelas (sou noveleira mesmo!), mas ultimamente não tenho muito saco para segui-las, a não ser que a história seja muito envolvente, com narrativa rápida e com poucos personagens. Entretanto não quero falar sobre esta série turca, mas sim sobre sua trilha sonora que me chamou muita atenção.

A trilha sonora instrumental da novela é muito bonita e foi baseada na obra "Scheherazade" do compositor russo Nicolai Rimsky Korsakov. Em inúmeras passagens da série turca é possível escutar trechos da obra de Korsakov, como, por exemplo, nos momentos em que o personagem Onur (Halit Ergenç) escuta um CD da peça musical, enquanto pensa em sua amada e/ou na cena final em que narram um resumo do livro "As Mil e Uma Noites" e fazem um paralelo com a história da novela.




Scheherazade é uma suíte sinfônica composta há mais de 120 anos por Korsakov e foi baseada no livro "As Mil e Uma Noites". A série de movimentos desta obra é algo espetacular. Não encontro palavras para descrever a imensa beleza. Talvez exista alguma palavra apropriada em alemão. Os alemães são bons nisso. 

A obra começa com movimentos graves, taciturnos e desesperadores progredindo para uma melodia mais sensual e delicada, intercalando com movimentos mais dramáticos e líricos, chegando a conclusão mais romântica e pacífica, nos possibilitando o direito de imaginar as cenas com os personagens. Além disso, é impressionante a genialidade musical de Korsakov quando ele permite que todos os instrumentos tenham voz própria. É um majestoso agrado aos ouvidos. Como não sou conhecedora de música clássica, aqui segue o link de uma perfeita análise desta obra



Além de Korsakov, outra música clássica aparece com destaque na novela turca. "Sarabande" do compositor barroco germânico Händel sempre marcava presença em cenas de grande dramaticidade. Para título de curiosidade, esse tema também fez parte da trilha sonora do famoso filme "Barry Lyndon" de Stanley Kubrick.

Abaixo seguem alguns temas feitos para a novela: 










Espero que tenham gostado e como puderam ver, as vezes, novela também é cultura rsrsrs. Agora preciso urgentemente seguir os passos do personagem Onur e ler os contos das Mil e Uma Noites enquanto escuto simultaneamente a belíssima "Scheherazade" de Korsakov. Vai ser uma bela viagem ao oriente.





sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Aretha Franklin: a voz do universo


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"You make me feel, you make me feel, you make me feeeeeel... li-ke a na-tu-ral woman" ♪♫

Ai Aretha Franklin... A revista Rolling Stones tem razão em colocá-la como a maior cantora de todos os tempos. Não considero nenhum exagero, pelo contrário, até acho justíssimo. Entretanto, eu sei que essas listas não interessam a ninguém. Apenas aos fãs, é claro. São listas baseadas em opiniões, nada mais. Além disso, o universo musical é vasto, com muitos idiomas, inúmeras culturas e é praticamente impossível fazer este tipo de classificação. Por isso, sou do ponto de vista de que não existe "a maior cantora de todos os tempos", mas sim a maior cantora para cada um. E no meu caso, sou apaixonada pelas canções de Aretha Franklin.

Aretha Franklin - Spanish Harlem

Eu sou uma pessoa completamente fascinada por música. Tanto que até virou uma mania, pois qualquer palavra em uma conversa me remete ao trecho de uma canção. Sou um jukebox ambulante! Por isso, adoro passar horas escutando músicas, conhecendo novos sons, amo trocar ideias a respeito, gosto de saber sobre os gostos musicais dos meus amigos ou de pessoas que acabo de conhecer, e, na medida do possível, gosto de ler sobre o assunto. Tudo de maneira despretensiosa, obviamente. Me dá muito prazer.

Aretha Franklin - I say a little prayer

Particularmente, adoro debater sobre cantoras e não sobre bandas, como fazem a maioria das pessoas. Não manjo nada de melhor guitarrista, melhor baterista, melhor baixista, melhor blá blá blá. Claro que conheço algumas coisas e do pouco que sei eu comento. Mas gosto de me ater a voz, que considero o maior instrumento musical por motivos óbvios. A voz é o instrumento musical mais antigo e natural, além de ser o mais difícil de ser trabalhado. Sobretudo, gosto muito das vozes femininas, pois me emocionam com mais frequência. Talvez isso explique o meu deslumbramento pelas cantoras.


Aretha Franklin - You made me love you

Aliás, essa conversa toda me fez lembrar que na infância, como a maioria das meninas, eu adorava imaginar que era uma cantora de sucesso. Improvisava microfones com tampas de desodorante Axe, rolo de papel higiênico e fita isolante preta. Pronto, aí estava meu microfone! Os anos se passaram, eu cresci e me tornei uma cantora de karaokê. Mas acho que ainda dá tempo de aprender a cantar e começar minha carreira na churrascaria. rsrs

Aretha Franklin - A Natural Woman

A ariana Aretha Louise Franklin, como a maioria dos grandes cantores americanos, começou a cantar na igreja de seu pai. Iniciou sua carreira gravando blues e jazz, pois na época a imaginavam como a "nova Billie Holiday". Mas foi cantando R&B e soul que ela se tornou "A Rainha" e "A Voz do movimento dos direitos civis". 

Aretha Franklin - Respect

Os especialistas costumam elogiar sua enorme técnica e a grande potência de sua voz. De fato é uma mezzo-soprano poderosíssima e faz melismas ágeis como ninguém. Tudo na medida certa, sem exageros. Mas, pra mim, sua grande qualidade é na interpretação. Muita gente costuma babar o ovo da Whitney Houston, mas sempre achei ela uma cantora fria, que possuía muita técnica, mas era zero em emoção. E como boa psicóloga que sou, acho que tudo na vida deve ter emoção. A emoção é o movimento da vida, sem ela não existem as grandes recordações, por exemplo. E isso Aretha Franklin faz com classe e com total autoridade. Canta como se ela estivesse parindo o cosmos de dentro de suas vísceras.

Aretha Franklin - Nobody Like You

E por falar em emoções que geram recordações, a voz de Aretha Franklin remete-me as cenas mais doces, naturais e sensíveis de diversos filmes. Me dei conta de que amava soul quando escutava suas músicas nos filmes. O mais engraçado é que a primeira vez que escutei o nome de Aretha Franklin foi em uma entrevista do Supla a uma rádio de São Paulo. Eu deveria ter uns 15 anos. "Então essa voz é de Aretha Franklin!", eu pensava admirada. Acho que tive a mesma sensação de descoberta do Arquimedes. Ele na banheira e eu na cozinha da minha casa fazendo o desjejum. rsrs

Aretha Franklin - Try A Little Tenderness

Hoje Aretha não é a mesma de antigamente. Já é uma senhora septuagenária. Gosto muito da sua fase sessentista e setentista. Daí pra frente confesso que não me agrada muito. Com todo respeito as grandes cantoras que adoro, como Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Joan Baez, Nina Simone, entre outras deusas, mas não tenho dúvidas de que a "Grande Mãe" é a Aretha Franklin. Ela é a voz do universo e a minha cantora estrangeira preferida. Quem não conhece, eu afirmo que vale MUITO a pena escutar. Uma das maravilhas deste mundo.



quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Vivendo em outra época

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Em que época você gostaria de ter vivido?

Começo esta postagem com uma pergunta que acredito que muitos já escutaram. Invariavelmente já fiz esta pergunta para muitas pessoas e obtive respostas de todos os tipos. Gente que queria ter vivido nos anos 80, outros na década de 70, outros mais especificamente no Rio de Janeiro da década de 50 e por aí vai.

Na semana passada assisti o filme "Meia-Noite em Paris" do famoso cineasta Woody Allen. Em resumo, o filme conta a história de um roteirista americano chamado Gil Pender (Owen Wilson, aquele moço do nariz ondulado) que viaja para Paris com sua noiva e seus sogros. Mas diferente dos outros, Gil é absolutamente encantado com a Cidade Luz e imagina que a melhor época da história tenha sido os anos 20, época de grandes artistas. Um dia, andando pela cidade, exatamente à meia-noite, Gil entra em um carro que o transporta para a década de 20 no qual acaba conhecendo vários artistas que admira. E esta cena se repete diversas vezes. Daí pra frente acontecem muitas coisas e as reflexões vão aparecendo. Mas não vou prolongar muito este resumo para não ser SPOILER. 

No entanto, ao assistir o filme me veio uma pergunta: Será realmente que já existiu alguma época de ouro na história da humanidade? Vão pensando aí e depois retorno a esta pergunta.

No filme é citado que o personagem Gil Pender sofre do Complexo da Era de Ouro. Ou seja, uma pessoa que crê que no passado as coisas eram melhores. No entanto, trata-se de um saudosismo por uma época que não viveu. Saudosismo por algo imaginário. 

Creio que todos nós já sofremos deste complexo em algum momento da vida. Quantas vezes não pensamos que a música, a literatura, os programas de televisão eram melhores do que hoje? Quantas vezes não escutamos de amigos que gostariam de ter vivido em outra época? Aliás, eu já pensei assim muitas vezes. Já cheguei a afirmar que nasci na época errada. Mas existe época certa ou errada? 


Cenas de São Paulo, anos 50 / 60



Eu sempre tive um fascínio pela década de 60. Minhas bandas e cantores favoritos são desta época, o futebol brasileiro estava em seu auge, a moda, a maquiagem e a efervescência cultural da década me chamam muita a atenção. Aquela mistura de cabelos escovados com roupas de estampas geométricas e a psicodelia me hipnotizam até hoje. Mas será realmente que era tão bom assim viver naquela época?


Festival de MPB de 1967. Já dá pra perceber que o brasileiro sempre curtiu uma vaia, né. Os comentários saudosistas são os melhores.


Nos anos 60, o mundo estava em Guerra Fria, o Brasil sofreu um golpe militar e transformou-se em uma ditadura, mulheres e negros ainda estavam conquistando direitos (ainda continuam), a desigualdade em nosso país já era muito grande, o acesso as informações era difícil (nem todo mundo tinha televisão em casa), as pessoas fumavam em qualquer lugar, não existia a lei do divórcio, não existia internet, youtube, facebook e tão pouco um blog como este.


Assim como o personagem do filme, nós ficamos impressionados apenas com as coisas boas do passado. Por este motivo fica muito mais fácil sonhar com uma época que não vivemos. O presente é sempre tedioso. Preferimos a fuga para evitar os confrontos com o que não nos agrada. O engano do personagem e que todos nós cometemos também, é que a vida por mais que fosse divertida em outra época (hoje ela também é!), mas quando tudo se tornasse rotineiro nos sentiríamos da mesma forma que nos dias atuais. Afinal de contas na década de 60, eu também teria que estudar (acredito que seria mais difícil), trabalhar, pegar ônibus lotado e nem existiria metrô para me ajudar a ir da zona sul até a zona norte de São Paulo. E muito possivelmente eu iria querer ter vivido na década de 40, sonhando com a Era do Rádio e com os gols do Leônidas da Silva pelo Tricolor.

Voltando a pergunta que fiz anteriormente, acredito que nunca existiu uma época de ouro na história da humanidade. Cada Era teve suas dores e suas delícias. Algumas com mais dores do que delícias, diga-se de passagem. Jamais queria ter vivido na Idade Média, por exemplo. No futuro, talvez daqui a vinte, trinta anos, os dias atuais também serão lembrados com nostalgia por quem viveu e não viveu esta época. Por isso, o melhor é aproveitar o que a nossa Era tem a oferecer.